Entrevista com Carlos Papel
Tiago[Blog] - Você é carioca, mas já declarou que se sente capixaba. Quando e por que começou essa relação, e quando percebeu a paixão pelo Espírito Santo?
Carlos Papel - Cheguei em Vitória, em 1981, para participar de um festival de música no Salesiano. Na época conheci muitos músicos que me acolheram muito bem, me apaixonei pela cidade e fiquei.
Tiago[Blog] - Você tem alguma música em especial que tenha ganhado mais festivais ou tocado bastante nas radio? Qual?
Carlos Papel – Sol da Manhã, é a música com a qual disputei o festival da Globo, em 85. É a que mais tocou e a que mais me pedem também.
Tiago[Blog] - Conte um pouco sobre algumas parcerias sua.
Carlos Papel – No Rio fiz música com Paulo George Poeta. Aqui meu parceiro mais constante é Fábio Teixeira, do Grupo Imã, também fiz com grande prazer algumas canções com João Pimenta e Zé Antonio. Hoje tenho trabalhado com Warley Kaiser.
Tiago[Blog] - Quando você começou a compôr e quando descobriu que poderia expôr seus trabalhos, que tinha um espaço na música para você?
Carlos Papel – Fui músico de baile durante alguns anos, compondo desde os 13 anos. Mas só me considero compositor a partir dos 23. Acho que fazer música é primordial para a compreensão, significa um estudo silencioso da matéria e é imprescindível ao conhecimento.
Tiago[Blog] - Qual a sua relação com a política capixaba e/ou nacional?
Carlos Papel – Sou filiado ao Partido dos Trabalhadores(PT). Acho que todos deveriam ter um lado, escolhi o meu. Tenho profunda relação com a política local e nacional, já que trabalho com jingles. Acredito na participação, participo com meu trabalho autoral e ativamente dos movimentos.
Tiago[Blog] - O que você acha dos meios de comunicação capixabas e o "espaço" que os nossos artistas têm neles?
Carlos Papel – O mundo se volta hoje para uma realidade aparentemente nova, mas que sempre esteve presente nos meios culturais. Hoje, a indústria criativa desempenha um papel estratégico no PIB de muitos países, só pra citar exemplos, a Inglaterra criou um ministério, nos Estados Unidos o faturamento das indústrias criativas contribuem com 8% do PIB americano, maior que todo o PIB brasileiro, e por aí vai. Não creio que os meios de comunicação locais se preocupem com isto, além disto, o tratamento dispensado aos que aqui se dedicam à cultura é por vezes paternalistas, na maior parte das vezes desrespeitoso, não somos “artistas da terra” ou “artistas locais”, somos universais e preferimos ser chamados por nossos codinomes. É imprescindível dizer também que nem todos na mídia capixaba nos tratam desta forma, existem muitos radialistas e jornalistas capixabas abnegados pelo que construímos em nossos trabalhos, e que nos dão maior força.
Tiago[Blog] - Alguns dos grandes músicos capixabas tiveram de sair do estado para fazer sucesso. Você acha que isso ainda acontece?
Carlos Papel – Em Brasília não, lá o movimento revelou Renato Russo, Paralamas e outros, que já saíram bombando da capital. Geralmente é importante você abordar assuntos pertinentes à sua aldeia, sua cidade, seu bairro. É mais fácil ser universal assim, é preciso apoiar os trabalhos aqui no Espírito Santo, os que têm conhecimento disto sabem que o retorno financeiro será bem maior. O estado segue os direcionamentos do eixo Rio-São Paulo, gosta dos mineiros e canta música da Bahia, é preciso sermos menos subservientes.
Tiago[Blog] - Como você ve a qualidade do cenário da música jovem capixaba e nacional? Algum(s) músico(s) em especial?
Carlos Papel – Diria que a música capixaba é a bola da vez, quem deixou escapar essa afirmação em entrevista foi o próprio ministro(da cultura) Gil, eu não tenho dúvidas disto, pelo tanto de bandas novas de qualidade, artistas solos, o número de estúdios, a pluralidade nas propostas. Talvez com mais empenho das pessoas em geral, aquelas que amam nosso estado de verdade isto aconteça mais rápido e será bom pra todo mundo.
Tiago[Blog] - Você tem previsão do lançamento do seu novo trabalho? Conte um pouco sobre o novo álbum.
Carlos Papel – Agora em fase de finalização de arte, mau novo álbum, “Fora do Eixo” deverá ser lançado em Outubro. É uma proposta sincera, direta, com canções diferentes das que sempre gravei. Meu CD fala ao mundo sobre o Espírito Santo, mas também fala ao Espírito Santo sobre ele mesmo. Regravei Chão de Estrelas(Orestes Barbosa-Silvio Caldas), a maioria das canções são de minha autoria, mas também gravei Carlão Ferruth, Lula Moço, Warley Kaiser, Xambu, João Pimenta. Tem a participação especial do Carlão Ferruth(Gaita), da Julia Moço em “Olhar de Litoral” e da Clara Moço em “Fora do Eixo”. O álbum foi todo gravado no Espírito Santo, com fotos do Humberto Capai, concepção de capam, encarte, etc. do Celso Adolfo e supervisão gráfica do Julio Storck. Comecei gravando no Estúdio Cores Vivas, continuei no Zero DB, mixei e masterizei, também no Zero DB. Só músicos do Estado tocam no meu CD.
Tiago[Blog] - Fale um pouco sobre a sua carreira em geral, festivais, programas de TV, rádio, shows...
Carlos Papel – Já tive contrato com gravadoras, participei de quase todos os programas de rádio e TV pelo Brasil afora, tais como: Xuxa, Chacrinha, e por aí vai. Também já fiz meus próprios programas, na TV Capixaba “Show Capixaba Especial” e na TV Assembléia “Cem por Cento”. Dos festivais já fui piolho, o de maior ênfase foi o da Globo em 1985. Fiz shows no Teatro Ipanema, no Circo Voador, nas Praias capixabas, quase todas, e no momento preparo meu próximo, pra lançar o CD.
-Graças a Deus hoje o tesão não é mais assinar contrato com gravadora, eles são isentos do ICMS, com a esfarrapada desculpa de que vão investir em artistas novos, nunca o fizeram. Hoje estão roendo o osso com a pirataria que eles mesmo fabricaram, para nós restou a grande aventura da independência. Realmente na nossa cena, quem decide é o público, muito certo, afinal é para quem fazemos nossa artes e manhas!
-No mais, muito grato Tiago, espero ter contribuído.
Saudações musicais.
Abração.